• Marc Tawil*
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ideia, criatividade, inovação, (Foto: Unsplash )

Caso da Mercur mostra os impactos postivos da inovação na prática  (Foto: Unsplash )

Hackathon, intraempreendedorismo, conexão com startups... Vocábulos da Nova Economia que se aplicariam suavemente a qualquer case, se não estivéssemos falando de uma empresa centenária, nascida no interior do Rio Grande do Sul, e com produtos super tradicionais.

O case da gaúcha Mercur, fundada em 1924 em Santa Cruz do Sul e desenvolvedora de produtos e projetos nas áreas de saúde e educação, me chamou a atenção pela inventividade: um Hackathon (maratona de programação na qual hackers se reúnem por horas, dias ou até semanas, a fim de explorar dados abertos, desvendar códigos e sistemas lógicos, discutir novas ideias e desenvolver projetos de software ou mesmo de hardware), interno, voltado à inovação e ao desenvolvimento prático das soluções encontradas.

Para realizá-lo, a companhia acionou a Semente Negócios, empresa de educação empreendedora fundada em 2011, e, juntos aplicaram uma maratona de 60 dias.

O programa foi estruturado em duas etapas: exploração do problema e validação da solução. Ou seja, os times precisavam ir ao mercado, entender as demandas e necessidades das pessoas para, depois, construir hipóteses de solução.

“O hackathon foi uma ótima forma de começarmos a espalhar a cultura de inovação na Mercur. Mesmo as pessoas que não estavam participando estavam curiosas para saber o que estava acontecendo e quais seriam os resultados, além disso, sempre que era preciso as equipes podiam contar com ajuda de outros colegas para realizar as atividades. Então foram muitas participações indiretas. As ferramentas que introduzimos no nosso dia a dia também foram muito interessantes e hoje vemos o pessoal utilizando em outros processos”, me diz Cássia Hoelzel, articuladora de Inovação da Mercur.

“Além de experimentarmos novas metodologias e ferramentas, as equipes conseguiram entregar hipóteses de solução com muito potencial em um tempo muito curto.”

“O intuito de um hackathon estendido não é, necessariamente, chegar ao final com soluções incríveis, mas garantir que as equipes aprendam com os processos e apliquem no dia a dia”, me define César Costa, sócio e diretor de Inovação Corporativa na Semente.

“No caso da Mercur, o resultado foi que as pessoas, que já tinham um propósito compartilhado muito forte, potencializaram com metodologias ágeis pautadas em entender a problemática e construir soluções inovadoras.”

Maratona customizada


Diferentemente dos hackathons tradicionais, o programa da Mercur não teve um desafio específico - foram convidadas pessoas que lideravam as linhas de trabalho e cada equipe ficou livre para trabalhar na provocação que estava encontrando em sua própria área. A partir daí, foram dois meses de trabalho, intercalando momentos de capacitação, cocriação e validação com o público-alvo.

Ao final, as equipes prepararam um pitch, que foi apresentado para uma banca composta pelas lideranças da Mercur e alguns convidados externos. O intuito não era julgar as melhores, mas reconhecer os resultados que cada uma obteve durante a sua jornada. Todos os colaboradores foram convidados a assistir os pitchs, gerando uma interação maior das pessoas com o tema inovação.

O programa contou com seis equipes e duas das ideias foram escolhidas para continuar em desenvolvimento.

Hacker, ciberataque (Foto:  Westend61 via Getty Images)

Hackaton da Mercur criou novas soluções para empresa  (Foto: Westend61 via Getty Images)

Entre as inovações propostas havia uma nova tecnologia de resfriamento corporal para pessoas expostas a altas temperaturas, uma nova lógica de frete considerando uma rede de parceiros locais, uma solução robotizada para auxiliar na transferência de um lugar para o outro de pessoas com ELA (Esclerose lateral amiotrófica), e um recurso alternativo para o uso de muletas.

Além do hackathon, a companhia também tem trabalhado outras frentes de inovação: o intraempreendedorismo, focado em soluções para trabalho e estudo remoto, conexão com startups, para solucionar desafios voltados ao BackOffice, cooperação com universidades e para desafios que auxiliem na mobilidade de pessoas com sequelas pós-AVC.

Cássia Hoelzel, articuladora de Inovação da Mercur, me garante que, por conta desse investimento em iniciativas inovadoras, a cultura de inovação já circula de maneira orgânica pelas diversas áreas da empresa e pessoas se apoderaram das ferramentas e novas práticas, a executando-as em seu dia a dia e, assim, fortalecendo a mentalidade disruptiva e ágil em todos os colaboradores.

“Iniciamos o projeto de inovação com a Semente no final de 2019, com um diagnóstico que serviu como base para a construção e implantação da estratégia de inovação na Mercur. Durante o ano de 2020, mesmo com os impactos da pandemia, foi realizado o planejamento dessa estratégia, no qual desenvolvemos nossa Tese de Inovação, olhamos para nosso Portfólio de Inovação, escolhemos Veículos de Inovação e desenhamos os Pipelines para que eles acontecessem já no ano de 2021”, me relata.

Demandas reais

“Ao iniciar o processo com a Semente tínhamos alguns objetivos, como alinhar e ampliar o entendimento sobre inovação; aprender a utilizar novas ferramentas; descobrir formas mais ágeis de trabalhar; desenvolver novos modelos de negócio; alinhar nosso portfólio ao nosso posicionamento”, me afirma Douglas Hoelzel, diretor Financeiro e de Inovação da Mercur.

“Entendemos a cultura de inovação como um dos principais passos para a mudança de mentalidade que precisamos para que uma indústria que se aproxima de seus 100 anos se adapte ao cenário atual. Com anos de experiência, alguns vícios também acabam se desenvolvendo, podendo tornar alguns processos morosos e complexos. Ao investir em cultura de inovação, provocamos um pensamento mais ágil e curioso nas pessoas, fazendo com que reflitam mais sobre os processos e o que podem fazer diferente.”

Resultados imediatos

O principal resultado do hackathon está relacionado à cultura de inovação. A partir do momento em foram apresentadas novas ferramentas e novas formas de pensar, percebeu-se um impacto positivo na criatividade e na vontade das pessoas.

“Incentivamos que se apropriem dessas ferramentas, e ficamos muito felizes ao vê-las sendo usadas em outros processos e de formas diferentes”, frisa Cássia.

“Para o ecossistema como um todo, acreditamos ser uma forma muito interessante de validar necessidades e hipóteses de solução. Temos como prática realizar oficinas de cocriação, que já acontecem há tempo. Trata-se de uma dinâmica um pouco diferente, mas com um objetivo final muito parecido. Essa forma de inovação aberta contribui bastante no processo de desenvolvimento de produtos”, complementa Douglas.

No projeto realizado com a Semente, o último veículo de inovação a ser estruturado será o Centro de Inovação, para que a companhia possa focar em inovação transformacional e se conectar com o ecossistema de forma ainda mais aberta.

*Marc Tawil é empreendedor, estrategista de comunicação, escritor, educador e palestrante. Nº 1 LinkedIn Brasil Top Voices e LinkedIn Learning Instructor, é três vezes TEDxSpeaker e lança em 2022 pela editora HarperCollins Brasil o livro Seja Sua Própria Marca. Acesse os canais oficiais no Telegram e no YouTube.