Inclusão escolar é desafio a ser vencido em conjunto
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Abril Azul relembra a importância da consciência sobre o autismo
A inclusão escolar é uma prática que prevê o respeito às diferenças individuais e a valorização da contribuição de cada pessoa no processo de aprendizagem. Na vida dos estudantes em geral, essa etapa é imprescindível, pois o processo permite que o aluno receba suporte para se desenvolver dentro das suas particularidades, independente de qualquer diagnóstico. Para isso, escola, pais, mães e cuidadores precisam estar juntos proporcionando as condições de aprendizado e acessibilidade necessárias.
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No mês de conscientização sobre o autismo, o Abril Azul, a Mercur traz a pauta sobre adaptação escolar, também chamado de currículo adaptado. Para que a inclusão aconteça, a instituição de ensino precisa conhecer o caso como um todo, estando atenta a todas as particularidades e o panorama da história de vida do aluno: se existem acompanhamentos especializados, como terapia ocupacional, fonoaudiólogos, neurologistas, entre outros.
“É preciso acolher da melhor forma possível, dentro do que a criança necessita para ter condições de aprender, tanto conteúdos ditos tradicionais, como aprendizagem para a vida cotidiana”, destaca Márcia Vilma Murillo, pedagoga da Mercur.
Ela complementa que, quando há necessidades específicas no desenvolvimento, como déficits do Transtorno do Espectro Autista (TEA), são necessários recursos para entender a comunicação e os conteúdos que são passados nesse ambiente, tanto social quanto pedagógico. Segundo o último Censo Escolar, quase 300 mil alunos com autismo estavam matriculados nos ensinos infantil, fundamental ou médio das redes pública e privada em 2021. A alta é de 280% se comparada a 2017, quando havia 77 mil. Apesar da inclusão escolar estar acontecendo cada vez mais nas escolas brasileiras, ainda há muitos estudantes fora do ambiente escolar.
Escola pode atuar apoiando desde o início
Cassiano Ricardo Kappaun, colaborador da Mercur, e pai de Rafael, de 16 anos, que tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), conta que passou pelo processo de inclusão escolar.
“A entrada na vida escolar foi complexa, difícil e desafiadora, com muito aprendizado, descobertas, evolução, esperança, emoções e experiências boas e não tão boas. Importante pontuar que o Rafael foi pioneiro em muitos locais que frequentou”, relata o morador de Santa Cruz do Sul, cidade-sede da Mercur.
A família viveu dificuldade desde o início, por não ter espaços como creches e escolas no município preparadas para receber uma criança ou adolescente com necessidade especial. O apoio amoroso da esposa e mãe de Rafa, Tatiana Bruck Ramos Kappaun, foi fundamental, conta Cassiano. Hoje o aluno está alfabetizado, faz cálculos básicos e a família tem como foco investir nas atividades diárias para o adolescente ter mais autonomia.
“Enxergamos a necessidade de maior empatia, as pessoas precisam estar atentas, abertas, educadas a viver com a diferença”, sentencia Cassiano.
Os espaços escolares também podem contribuir antes ainda: no processo de diagnóstico, que costuma ser muitas vezes longo e desafiador. A pedagoga Márcia frisa que a escola, na verdade, nunca realiza o diagnóstico, mas pode ajudar a identificar características básicas e genéricas, algumas mais evidentes, outras mais complexas de serem analisadas, a partir da observação das crianças. É papel também da instituição sugerir a busca por atendimento especializado (neurologista, pediatras, entre outros) ou fomentar o debate sobre o tema, tendo sempre muito diálogo com a família.
“É preciso uma abordagem a partir das potencialidades do estudante e não pelas suas ‘faltas’/carências, qualificando assim habilidades sociais, cognitivas e emocionais, que estão sempre interligadas”, pontua Márcia.
A formação de uma rede de apoio – com profissionais que auxiliem tanto a criança, quanto a família e a escola – nessa caminhada escolar, como apontado por Cassiano, também torna o processo de diagnóstico e inclusão mais tranquilo.
Avanços e alternativas
Atualmente há mais acesso à informação, profissionais se especializando, clínicas e recursos via plano de saúde voltados para o autismo. Mas, Cassiano aponta que ainda é pouco:
“Acredito que hoje está sendo mais abordado o tema da inclusão. Quando tivemos o diagnóstico do Rafael, entre 2008 e 2009, aqui em Santa Cruz, tinham poucos recursos e profissionais capacitados. Tivemos que ir a Porto Alegre em busca de um diagnóstico. O que foi uma barra pesada até conseguirmos nos inteirar, estudar, buscar ajudas, terapias, que ajudaram a entender essa condição do Rafa”, conta ele, que organizou uma associação, a LuzAzul, para trabalhar o tema na cidade. “Percebemos muito mais foco em crianças e pouco para adolescentes e adultos, sendo que essas crianças crescem” , lembra.
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Inclusão é pauta da Mercur
A Mercur atua indiretamente no processo de inclusão de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA): cocriando soluções que possam atender às reais necessidades que alunos possuem.
“Esses instrumentos e materiais são criados a partir de roda de conversas com atores diretamente ligados a esse processo, seja em escola, clínicas de atendimento especializados, escolas especiais, espaços de convivência, entre outros, para tentar construir formas acessíveis, simples, alegres e coloridas, sem aparência hospitalar, já que muitos relatam esse receio”, explica Márcia, que atua como pedagoga na Mercur há 11 anos.
Os Facilitadores de Atividades de Vida Diária (Facilitadores de AVDs) são dispositivos que ajudam na realização de atividades rotineiras. Eles fazem parte da Tecnologia Assistiva, uma área interdisciplinar que engloba recursos, serviços e estratégias que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais das pessoas e promover a real inclusão. Ou seja, são materiais escolares adaptados para estudantes com algum tipo de deficiência ou estejam dentro do espectro autista.
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