Gestão responsável e Educação

Aprender e ensinar a cooperar

Publicado em: 14 de novembro de 2019

Tempo estimado de leitura: 10 minutos

Por: Engaje! Assessoria de Imprensa

Incentivo à colaboração promove a busca de soluções mais criativas e democráticas para problemas comuns no ambiente escolar e na vida.

A criatividade é uma das dez competências gerais da educação básica, conforme orienta a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Dar importância a essa habilidade é essencial, seja nas escolas ou na sociedade, uma vez que ela é considerada ferramenta crucial para que crianças, jovens e adultos desenvolvam maneiras de encarar a realidade e de solucionar problemas.

Inúmeras pesquisas e dados públicos revelam no Brasil e no mundo o acirramento da desigualdade social, uma crise ambiental e climática, mudanças significativas nas relações de trabalho e transformações tecnológicas e de processos de comunicação muito rápidas. Ou seja, as mudanças sociais que aconteceram no século passado e, em especial na última década, trouxeram grandes desafios para as pessoas dentro e fora da escola.

Com um olhar sistêmico não apenas para a própria gestão, mas também para o mundo em que está inserida, a Mercur, indústria que está há 95 anos em Santa Cruz do Sul, vem repensando há algum tempo o seu papel na educação. Hoje o sentido de bem-estar das pessoas e a capacidade de ajudá-las em seus próprios contextos é que definem a criação dos produtos e serviços da empresa, que cada vez mais quer ser local para causar menos impactos e promover a geração de ocupação e renda na comunidade em que está inserida.

É neste cenário que a busca por soluções que valorizem a cooperação passou a fazer parte do cotidiano da indústria que hoje compreende a transformação da educação e da sociedade como algo sistêmico e pactuado entre todos. Na Mercur há um entendimento de que promover ambientes cooperativos e de cocriação é promover a criatividade e a autonomia das pessoas que, juntas, são capazes de criar e construir soluções melhores, mais justas e mais acessíveis para todos.

 

Como incluir e cultivar a cultura da cooperação na escola

A educadora Raquel Franzim, coordenadora de educação do Instituto Alana e co-coordenadora do programa Escolas Transformadoras, iniciativa da Ashoka correalizada no Brasil pelo Alana, ressalta que a cultura da cooperação é hoje um elemento essencial nos ambientes de aprendizagem: “Não por preparar as pessoas para o mercado de trabalho, porque infelizmente as habilidades sociais às vezes são vistas apenas como atributos para ingressar no mercado, mas por atender e educar seres humanos que, entre outras coisas, também podem vir a ser trabalhadores. É diferente a gente formar pessoas para o mercado e formar pessoas que vão trabalhar, que serão seres integrais e que por isso necessitam de um cultivo e uma aprendizagem da interdependência entre as pessoas, a natureza, a vida”, ressalta.

Ela considera que para se alcançar um melhor quadro de bem estar social para todos, o grande desafio é cada vez mais abraçar soluções que não passam apenas pela lógica individual: “A gente tem uma compreensão social muito pautada nas experiências das pessoas de que alguns desafios são capazes de serem solucionados apenas pelo esforço de cada um. Do ponto de vista científico isso não confere porque não temos soluções de mudanças sociais, econômicas e políticas que passem apenas pelo esforço individual”, comenta.

Segundo ela, é neste contexto muito maior que a escola, que a cooperação e o trabalho em equipe se colocam. O desafio de educadores, então, passa a ser compreender de que maneira a escola dialoga de verdade com a vida, como faz para inserir estes diálogos e práticas no seu dia a dia:

“Essa escola que dá conta apenas de uma dimensão de conhecimento e não dialoga com os desafios das pessoas, os desafios de viver, de ter acesso a direitos humanos básicos, de construir soluções juntos para os problemas de escassez de recursos naturais, ela precisa reconhecer o quanto antes a interdependência de fatores sociais, econômicos, políticos e ambientais. Não existem conquistas de aprendizagem para todos se apenas alguns prosperam, se apenas o paradigma individual prospera”, ressalta.

Raquel usa como exemplo a questão ambiental para reforçar que não existe mudança climática apenas para um grupo da sociedade. É um problema que atinge alguns com maior impacto, é claro, mas atinge a todos porque a interdependência, segundo a educadora, é uma regra da vida biológica, da vida humana, da vida social que se explica em vários cenários, inclusive no econômico. A busca de soluções coletivas para os problemas ambientais também é algo que já está e precisa estar cada vez mais presente nas conversas nas escolas e nas famílias.

Segundo a educadora, uma escola transformadora precisa fazer um uso cuidadoso e ético de recursos físicos e naturais. Precisa reconhecer que a grande potência das aprendizagens até pode partir do material escolar, mas que não está nele ou na quantidade que se tem. Está nas relações que são mediadas com o material. “O material escolar por si só não soluciona o problema da aprendizagem, ele não faz a criança aprender mais ou brincar mais. Você pode ter uma biblioteca enorme na escola ou em casa, por exemplo, e não necessariamente o seu aluno ou filho será um leitor. A promoção da aprendizagem e da colaboração se dá na relação, no vínculo, e vínculo a gente constrói dividindo coisas, dividindo espaços, resolvendo problemas juntos”, reforça.

Para ter cooperação é preciso exercitar papéis diferentes, defende:

“Por que cada um precisa ter um lápis se a gente pode ter alternância de funções na atividade? Em um momento eu vou escrever, em outro vou falar, num outro eu preciso decidir com meu colega o que é prioridade, depois a gente vai apresentar para a turma. Então será que todo mundo precisa ter o mesmo recurso ou será que é preciso ter espaços e relações provocadas, criadas, mediadas pelos educadores e pelas crianças? Esse paradigma de que todo mundo tem que fazer a mesma coisa, ao mesmo tempo, com as mesmas coisas é insustentável do ponto de vista do planeta. A gente precisa de alternância, de diversidade, de pluralidade e dentro da escola isso passa pelo reconhecimento de que não é preciso um volume de materiais.”

Ela acredita que se aprende a cooperar dividindo o material, encontrando soluções para os recursos que são escassos e finitos, dividindo a mesa, dividindo livros e brinquedos. E que neste cenário, dentro e fora da escola, todos os adultos têm uma responsabilidade muito grande: a de não achar que o seu filho precisa de todas as coisas.

“As crianças precisam de menos coisas e de mais relações com o outro. Precisam sim de atenção, de um olhar atento às individualidades e subjetividades, mas principalmente da convivência com o outro”, diz.

O que existe de mais inovador nas escolas, segundo Raquel, é o uso de menos materiais e a promoção de mais relações mediadas por alguns materiais que sejam responsáveis com o planeta. “Hoje o principal recurso que se tem nas escolas e na sociedade, a principal chave de processos de transformação são as pessoas. É fazer com as pessoas, encontrar com elas as melhores soluções”, ressalta.

Quanto mais cedo se percebe que o mundo é de todos nós e que precisamos cuidar dele e uns dos outros, ampliamos as possibilidades de um futuro melhor, não é mesmo?

 

Corações e mentes, escolas que transformam

Há um ano estreava a série Corações e mentes, escolas que transformam, uma produção que viajou os quatro cantos do Brasil contando histórias de escolas que protagonizam grandes transformações na educação. A Mercur foi uma das apoiadoras do documentário que durante o mês de outubro, em comemoração ao Dia do Professor, pôde ser assistido na íntegra pela plataforma Videocamp.

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