Modelo de gestão que prioriza o diálogo e autonomia na tomada de decisão
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“Incorporar na operação o aprendizado e o saber das pessoas faz com que cresçam o prazer e a responsabilidade de co-construir não apenas uma empresa melhor, mas o mundo em que queremos viver”, ressalta Jorge Hoelzel, facilitador da Mercur.
Imagine uma empresa em que – com autonomia e responsabilidade – todos podem participar de tomadas de decisões. Em que os cargos de chefia foram eliminados para privilegiar o diálogo e a cooperação entre todos. Em que uma área de aprendizagem atua para que todos ampliem seus conhecimentos e suas possibilidades de ajudar a construir novos processos e projetos. Essa é a forma de trabalho que a Mercur busca desenvolver, uma indústria quase centenária de produtos e serviços para as áreas da Educação e Saúde no interior do Rio Grande do Sul.
A primeira Virada de Chave
Conhecido pelos cerca de 620 colaboradores como a primeira Virada da Chave, o momento foi um marco da transição para um modelo de gestão mais horizontal do que vertical. Orientados por uma consultoria que trabalha estratégias de negócio alinhadas aos pilares da sustentabilidade, os colaboradores passaram a trabalhar internamente para desenvolver a empresa a partir de questões que chamam de “econômico humano sócio ambientais” e, desta forma, ficou claro que o modelo de gestão precisava de mudanças que dessem mais voz ativa a todos.
“A gente só consegue unir pessoas para construir soluções sustentáveis quando estamos no mesmo nível de conversa. Quando se tem uma empresa estruturada pela hierarquia tradicional com diretor, gerente, supervisor e todos os “chefes” é muito mais difícil você juntar as pessoas para conversar, porque não há conversa; tem ordens, né?”, comenta Jorge Hoelzel, facilitador da Mercur, ao contar sobre uma reestruturação estratégica da gestão que iniciou em 2007, mas que gerou grandes mudanças na arquitetura de cargos em 2009. Naquele ano, a movimentação mais expressiva se deu com os diretores, que foram convidados a se destituírem e passarem a serem facilitadores.
Por um longo tempo a Mercur repensou suas ações a partir de seu novo posicionamento. Criou ações que orientam sua forma de atuação, sendo alguns deles, o esforço em reduzir a diferença entre o maior e o menor salário e não realizar negócios com organizações que não valorizam a vida. Essa estruturação permitiu que a empresa estivesse preparada para uma nova virada de chave que iniciou em 2019.
A segunda Virada de Chave
Agora, além da horizontalidade já incorporada, a organização passou a adotar uma gestão que funciona por projetos e beneficia a dedicação especial de atenção para cada linha de produtos desenvolvidos. Um exemplo é que a partir de um destes projetos, a Mercur desenvolveu seu primeiro recurso com matérias-primas 100% renováveis, a Bolsa Térmica Natural. O resultado materializa um esforço que a empresa faz há mais de uma década para substituir o uso de matérias-primas não renováveis na operação por outras de menor impacto socioambiental.
Além disso, a Mercur está sempre em evolução, aberta a novos conhecimentos. Segundo Jorge Hoelzel, incorporar na operação o aprendizado e o saber das pessoas, faz com que nas relações interpessoais cresça o prazer e a responsabilidade de co-construir não apenas uma empresa melhor, mas o mundo em que queremos viver, no qual precisa caber uma enorme diversidade de realidades. “Seguindo a máxima de Paulo Freire de que todo mundo tem algo a aprender e algo a ensinar, entendemos que a autonomia nasce com as oportunidades que temos com as aprendizagens, onde aprendemos e ensinamos desde questões técnicas até questões relacionadas com a vida diária”, compartilha. Neste sentido, a Mercur possibilita espaços de aprendizagem e garante liberdade para que todos ampliem seus conhecimentos e suas possibilidades de ajudar a construir novos processos e projetos. Isso faz com que se ampliem as expertises individuais e dos grupos e também abre novas oportunidades dentro e fora da empresa.
“Nosso modelo de gestão não tem um nome, não se encaixa em uma teoria específica, estamos apenas estruturando a empresa da forma que fique mais adequada ao nosso propósito de participar da construção de um mundo de um jeito bom pra todo o mundo. Hoje temos pessoas e equipes dedicadas ao desenvolvimento de maior conhecimento nas linhas de produtos, à necessidade de concluir um recurso, mas também mais dedicadas à construção de soluções com a sociedade”, conta.
A autonomia no processo de tomada de decisões
Todas as pessoas, desde que tenham construído e combinado o processo da decisão junto com demais envolvidos na situação, têm autonomia para tomar decisões na Mercur. A empresa tem experimentado que, ao compartilhar autonomia e responsabilidades, com lideranças que giram entre as expertises de cada pessoa, todos voltam-se mais a objetivos em comum do que à disputa por crescimento hierárquico.
Diz-se que organizações com modelos de gestão horizontal são excelentes locais de trabalho para pessoas com espírito empreendedor. Nestes espaços os colaboradores têm maior liberdade para propor projetos e buscar oportunidades em outras áreas sem assumir todos os riscos sozinhos. O facilitador explica que na Mercur isso depende do perfil de cada pessoa.
“Mais do que buscar oportunidades individuais, as pessoas precisam colocar os seus talentos a serviço da sociedade. Por isto o “autoconhecimento” é o primeiro estágio de desenvolvimento que precisamos construir no nosso leque expertises. Com este pré-requisito cada indivíduo saberá onde e de que forma poderá contribuir mais. É neste ponto que entra o papel da empresa, de abrir oportunidades e possibilidades para que as pessoas evoluam e desenvolvam as suas melhores aptidões e dons. Na Mercur estamos aprendendo a evoluir para este cenário”, pondera.
Se quiser saber mais sobre essas e outras mudanças que aconteceram na Mercur, pelo olhar do Jorge Hoelzel, escute o podcast Capitalismo consciente na prática da CBN Professional.
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